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14 Ene Revista Marxismo Vivo – Português N° 11
Várias vezes nossos leitores reclamaram porque nossa revista não cobre os acontecimentos mais recentes da luta de classes. Esses leitores terão novos motivos para nos recriminar. Nas últimas semanas ocorreram quatro grandes acontecimen tos que não são analisados nesta nova edição de Marxismo Vivo. No Equador, uma poderosa mobilização de massas derrubou o presidente Lucio Gutiérrez. No Uzbequistão, uma importante rebelião contra o governo provocou a morte de aproximadamente 600 manifestantes. Na Bolivia, novamente o movimento de massas, nas ruas, derrubou o governo. E na França e Holanda, a população disse um sonoro NÃO à Constituição Européia.
Os fatos são bem representativos da situação que existe em partes extremas do planeta. Na América Latina, uma forte mobilização continental questiona os planos do imperialismo e com isso vai derrubando uma boa parte dos governos “democraticamente” eleitos (Equador, Argentina, Bolivia, outra vez Equador …). Na exURSS e Europa do Leste de conjunto, depois do longo refluxo que durou quase toda a década de 90, o movimento de massas está voltando ao centro da cena política. Por fim, no coração da Europa as mobilizações e protestos se transforaram em um hábito.
A situação no Equador, Bolivia, Uzbequistão e França nos permitiria encher páginas e páginas de nossa revista. No entanto, preferimos nos manter fiéis aos objetivos que traçamos há cinco anos, com o lançamento de Marxismo Vivo: não era cobrir os grandes acontecimentos da luta de classes, mas sim tirar as conclusões programáticas desses acontecimentos do ponto de vista do marxismo revolucionário. Esse é o motivo pelo qual muitas vezes nossa revista parece defasada em
relação à realidade, já que tirar esse tipo de conclusão pressupõe um estudo mais demorado, muitas discussões e reflexões.
Por outro lado, é interessante perceber como na situação atual os acontecimentos se desenrolam em uma velocidade vertiginosa, que supera os ritmos de qualquer redação. O caso do Equador e bastante representativo. A primeira edição de Marxismo Vivo, em junho de 2000, retratou a insurreição que derrubou o presidente Jamil Mahuad. A frente dessa insurreição estavam o Coronel Lucio Gutiérrez e o dirigente indigena Antonio Bargas, presidente da CONAIE. Se nesta nova edição de Marxismo Vivo tivéssemos analisado os acontecimentos no Equador teríamos que mostrar que depois da insurreição de 2000, Lucio Gutiérrez foi preso, a posteriori se lançou como candidato a presidente da república, acabou vencendo com amplo apoio dos trabalhadores e do povo e, por fim, esse mesmo povo saiu as ruas para derrubar o presidente que eles mesmos haviam eleito. Bargas, a mesma pessoa que em 2000 estava à frente da insurreição, e que por isso foi um dos entrevistados em Marxismo Vivo, em 2005, já como ministro, foi o principal organizador dos grupos armados que enfrentaram a balaços a nova insurreição das massas.
Na história da luta de classes várias vezes encontramos esse tipo de situação. Mais de uma vez vimos como os mesmos dirigentes que em um momento estavam à frente de ações revolucionárias, em outro estavam à frente da contrarevolução. Só que, na maioria dos casos, entre uma e outra ação, transcorria um longo período de tempo. Agora, a realidade é diferente. Os tempos ficaram mais curtos e isso já implica na primera e grande conclusão programática. A crise do capitalismo é tanta que o obriga a manter, de forma constante, uma ofensiva contra as massas. Isso provoca a resposta das massas que, muitas vezes, é superior a essa mesma ofensiva, e assim surgem, sem solução de continuidade, grandes enfrentamentos. E justamente esse processo rápido e violento, da revolução e da contrarevolução, o que explica que os personagens também mudem rapidamente de cenário.
Como diziamos anteriormente, neste número de Marxismo Vivo não vamos analisar a situação do Equador. No entanto, uma boa parte do que ocorre nesse país, especialmente no que se refere à direção das massas (a passagem da revolução à contrarevolução) só pode ser entendido no marco do que ocorre com a esquerda em âmbito mundial. E este sim, é um tema tratado em profundidade nesta revista a partir de um importante debate que ocorreu no último Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. Dessa forma, cremos estar contribuindo com a discussão sobre uma questão que deve ser o centro das preocupações de todos os marxistas revolucionários: que passos dar para superar a crise de direção revolucionária.
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