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14 Ene Revista Marxismo Vivo – Nueva Época Português N° 7
Apresentamos esta nova edição de nossa revista com a tristeza de ter perdido quem era, possivelmente, nossa principal colaboradora.
Maria Cecília Garcia, Cecilia Toledo (nome com o qual assinava seus artigos e livros) ou simplesmente Cilinha, como era chamada carinhosamente por seus amigos, familiares e camaradas, faleceu em 23 de setembro, em sua cidade natal, São Paulo.
Cecília era jornalista, doutora em comunicação, professora universitária, escritora, dramaturga, atriz, diretora e crítica de teatro. Trabalhou em várias universidades, na imprensa alternativa e em importantes publicações da cidade de São Paulo, mas era, antes de tudo, uma militante revolucionária e nunca deixou de ser desde que, em 1976, durante a ditadura militar, entrou na antiga Liga Operária.
Por causa da perseguição que sofreu durante a ditadura, há dois anos foi anistiada pelo Estado brasileiro que, formalmente, lhe pediu perdão e lhe concedeu uma pensão vitalícia.
Atualmente, era militante do PSTU brasileiro e da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI). Também como parte da LIT, militou na década de 1980 no MAS argentino, quando este era dirigido por Nahuel Moreno. Mais recentemente, esteve na ISL da Inglaterra.
Nos últimos 20 anos, dedicou-se a estudar e a militar intensamente pela libertação das mulheres que, para ela, como marxista, só poderia ser alcançada com a unidade de homens e mulheres na luta pela revolução socialista. Dessa forma, durante muito tempo, fez parte da comissão de mulheres do PSTU e da LIT.
Como parte desta luta, escreveu um livro intitulado o gênero nos une, a classe nos divide, que foi editado e reeditado várias vezes em espanhol, português e catalão e se transformou numa referência para milhares de pessoas, em especial para as mulheres.
Como militante da LIT, percorreu vários países (Argentina, Brasil, Espanha, Portugal, Equador, Bolívia, Marrocos e Inglaterra), apresentando em debates, conferências e seminários suas principais conclusões sobre a questão da mulher na sociedade capitalista e ajudando -as a se organizarem para lutar por seus direitos.
Em 1999, os médicos detectaram um câncer. No entanto, as cirurgias pelas quais teve de passar, assim como os frequentes exames, tratamentos de radioterapia e quimioterapia, não afetaram seu espírito de luta e sua vontade de lutar pela vida e pela revolução. Os leitores de Marxismo Vivo são testemunhas disto.
Pouco depois de sua primeira cirurgia, em junho de 2000, vinha à luz o primeiro número da revista Marxismo Vivo. Desde então, ela não foi uma pessoa a mais na revista. Não só fazia artigos importantes, mas também, com a humildade dos grandes, traduzia e revisava os textos, transcrevia as entrevistas, coordenava o trabalho com os diferentes colaboradores e vendia a revista nas bancas, que era sua atividade preferida.
Era assim a tal ponto que o primeiro número da revista atrasaria porque a capa não estava pronta. Ela não concordou com a proposta de atrasar a saída da revista. Nunca tinha feito uma capa em sua vida, mas para ela isso não era um obstáculo. Passou a noite toda tratando de fazer a capa e a fez. Na manhã seguinte, a revista estava, como tinha sido planejado, na gráfica.
Cecília era a alma da revista, na qual colocou muito suor e muita capacidade intelectual, como demonstram os inúmeros trabalhos sobre Oriente Médio, cultura, mulher, Bolívia, imprensa operária, questão nacional e outros temas mais.
Na Marxismo Vivo – Nova Epoca, fez parte do conselho editorial. Ela não pode participar da última reunião do conselho. Já estava muito debilitada. Mesmo assim, em sua ausência, foi votado que ela, junto com outros dois colaboradores, fariam parte de um novo conselho editorial e seria responsável por todo o trabalho prático da revista. Ela aceitou a proposta, mas não pode cumprir sua tarefa. Esta foi, possivelmente, a única tarefa que, em toda sua vida militante, se comprometeu a fazer e não fez. Sua enfermidade avançada impediu.
Depois de 16 anos de luta contra sua enfermidade, Cecília nos deixou, mas conosco ficou não só sua lembrança e seu exemplo, mas sua obra, seus livros, seus artigos, suas conferências e vídeos, suas peças de teatro e também um livro que não terminou de escrever antes de morrer, que se chama Gênero e Classe, que trata, novamente, do problema da mulher. Logo será editado pela Marxismo Vivo (em espanhol) e pela Editora Sundermann (em português).
Poucos dias depois de sua morte, na cidade de Mar Del Plata (Argentina), no 30° Encontro Nacional de Mulheres, que reuniu 65 mil companheiras, foi apresentada, de forma oficial, uma das obras de teatro que Cecília escreveu: Luta mulher poética.
A obra foi apresentada por um grupo de atrizes que Cecília formou e dirigiu naquele país. O teatro estava cheio, e o público aplaudiu de pé. Assim, renderam uma última homenagem a esta artista e lutadora incansável.
Na homenagem realizada no teatro Ruth Escobar, em São Paulo, as centenas de pessoas presentes levantaram seu punho e gritaram: Cilinha presente! Até o socialismo sempre! Nada mais justo.
Os editores, em memória de nossa companheira Cilinha.
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